quarta-feira, 23 de abril de 2008

Crónica


Políticos Cantores


O parlamento é o símbolo da democracia. É lá que os deputados e o primeiro-ministro, eleitos pelo povo, dão a conhecer propostas e debatem o futuro do nosso país.
O debate quinzenal é, decerto, um dos pontos altos da vida política portuguesa. E o que podemos encontrar lá? Um ardente trabalho político? Um extremo interesse pelo o que se faz? Talvez alguém consiga encontrar estes aspectos, mas a minha primeira impressão foi estar a assistir a um concurso de música. Fez-me mesmo lembrar aqueles concursos de televisão onde se anda à procura de um cantor espectacular, como os Ídolos ou a Operação Triunfo. Quando ouvi José Sócrates a responder às perguntas dos deputados, a sensação de estar a assistir à Operação Triunfo foi mesmo real. Parecia que, quando todos eles falavam, sabiam que alguém os ia julgar e que por isso tinham de executar a sua performance da melhor maneira possível.
Se virmos este trabalho de parlamento como um concurso deste género, rapidamente nos apercebemos das semelhanças entre eles, embora com algumas regras diferentes: os concorrentes (líderes de bancada parlamentar) cantam mais do que uma vez e os espectadores têm uma dupla função - ajuizar e escolher o vencedor (pena que seja só de quatro em quatro anos). Aqui, os vencedores anteriores estão permanentemente a defender o seu título. Veja-se o caso de José Sócrates, o actual vencedor, detentor do título de primeiro-ministro. Assim sendo, os outros concorrentes têm de se apresentar com a voz bem afinada e com boas músicas, que tenham uma letra com conteúdo importante parra o país. Apesar destas diferenças, o objectivo para quem participa é o mesmo: ganhar o lugar de melhor cantor, ou, neste caso, de primeiro-ministro.
Neste último debate quinzenal, Sócrates apenas fez o que se esperava que ele fizesse. Perguntavam-lhe algo e ele respondia, prontamente, com uma bela cantoria. Mas, ao ouvir as músicas dos outros concorrentes, apercebi-me de que as canções dos adversários começam a melhorar. O caso que despertou mais a atenção foi a participação de Francisco Louçã que deixou José Sócrates “à beira de um ataque de nervos”. Não sabemos se foi pela letra estar muito bem escrita, principalmente o trecho sobre as actividades de Jorge Coelho, ou pela sua boa interpretação, mas o que é certo, é que Sócrates não conseguiu responder da melhor maneira à música de Louçã: desafinou na resposta, deixando os nervos tomarem conta de si. A letra da música de Sócrates, que tratava de defender o militante do seu partido, até não era má, mas este não conseguiu aguentar a pressão e não manteve a calma, mostrando-se muito tenso na resposta.
Algo que também me prendeu a atenção foi o forte apoio vindo das bancadas aos seus concorrente favoritos. O concorrente nunca se sente sozinho, muito pelo contrário, sente que há uma bancada, ainda que quase um pouco vazia, que está por detrás, como que a dizer: “Força! És o melhor! Ninguém consegue cantar melhor do que tu!”. Todo este apoio se materializa em palmas e em palavras como: “Muito bem! Muito bem, senhor deputado!”. Tenho a impressão de que até Catarina Furtado gostaria de ter estas pessoas no público da Operação Triunfo a apoiar os seus candidatos tão entusiasticamente.
No final destas sessões ficamos sempre com uma impressão do que aconteceu: quem cantou melhor, quem cantou pior, se os concorrentes foram muito apoiados ou não, etc. Todos os que assistiram a mais este “debate de cantorias” tiveram a mesma opinião: Sócrates não esteve brilhante. Vamos continuar a seguir o desempenho de todos estes excelentes cantores até à escolha de 2009. Pede-se aos espectadores, todos nós, que continuemos atentos às suas actividades e aos seus desempenhos no parlamento, para que a escolha do vencedor no próximo ano seja mesmo a melhor.

Um comentário:

subrosa disse...

adorei a crónica
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